Em minha primeira sociedade, pouco antes da virada do milênio, lembro quando nosso cliente de maior porte, uma sólida editora de revistas de entretenimento e games, nos pediu ajuda para criar algo novo: sites em uma tecnologia proprietária, em um badalado provedor norte-americano de conteúdo fechado.
Já éramos especialistas nas três principais tecnologias de websites da época, sabíamos que não teríamos dificuldades. Sem pensar duas vezes, nos reunimos com o cliente, que informou alguma urgência na publicação e forneceu detalhes do conteúdo desejado para os sites, material tecnicamente simples com textos e imagens, por isso estimamos poucas semanas para o desenvolvimento.
De posse do conteúdo, e com a certeza da simplicidade do entregável que faríamos, rumamos para a sede brasileira do provedor, para nossa primeira reunião técnica.
Imagine nossa expressão ao descobrirmos que, não apenas tudo o que sabíamos de tecnologia seria inútil naquele contexto, como teríamos que aprender uma nova linguagem proprietária, com outras ferramentas técnicas e uma abordagem totalmente diferente da tradicional.
Após retornar ao cliente a má notícia de que o desenvolvimento levaria no mínimo o dobro do tempo originalmente planejado, paramos um momento para refletir não apenas sobre como pudemos ser tão imprudentes na estimativa inicial, mas também sobre os aprendizados que surgiram daquela experiência.
Alguns anos depois, em uma palestra sobre autoconhecimento a convite de um cliente corporativo, tive acesso ao conteúdo que dá título a este artigo, os Estágios do Crescimento. Naquela apresentação, as lições aprendidas no caso da editora começaram a se encaixar perfeitamente e de forma estruturada na teoria apresentada, conforme cada fase ia sendo explicada.
Desde então, aplicar esta lógica a cada situação da minha vida se tornou uma prática recorrente e compartilhar o tema com o máximo número de pessoas virou um hábito.
Portanto, é com enorme satisfação que apresento a você os Estágios do Crescimento, que se dividem em cinco partes:
1. Inconscientemente incapacitado
É o estágio onde não temos consciência de nossas incapacidades, é quando acreditamos que daremos conta de uma tarefa qualquer, apesar de nunca a termos executado antes.
Normalmente, um evento nos alerta sobre a situação real, como quando acreditei já possuir todos os conhecimentos necessários para desenvolver os sites da editora na nova tecnologia, mas ao receber os detalhes técnicos novos e complexos eu tomei ciência do meu total despreparo para aquela situação.
Tal evento de alerta nos leva ao segundo estágio.
2. Conscientemente incapacitado
Tomar ciência de nossas incapacidades é, ao mesmo tempo, assustador e libertador. É quando descemos do pedestal e admitimos para nós mesmos sobre nossas fraquezas e despreparos.
Ao tomar ciência disso, temos a escolha de fazermos algo a respeito, o que nos leva ao terceiro estágio.
3. Conscientemente capacitado
Ao decidirmos tomar uma atitude, vamos em busca da capacitação naquela vertical específica. No nosso caso do exemplo acima, fizemos uma imersão nos materiais fornecidos pelo parceiro, passando madrugadas debruçados sobre o tema, acelerando o aprendizado de tal forma que os impactos no prazo da entrega ao cliente fossem mitigados. Ao final de uma semana, estávamos minimamente capacitados para aquela nova tecnologia e, com apoio frequente de manuais, conseguimos fazer as entregas iniciais e também as seguintes sem maiores contratempos.
Com o tempo, porém, e com foco e muita mão na massa, começamos a pegar confiança em nossa capacidade de desenvolver sites naquela nova tecnologia proprietária. O próprio provedor avaliou nossa execução como de boa qualidade e passou a nos indicar clientes para aquela plataforma.
Atuamos em outros conteúdos e, com a prática, já não precisávamos dos manuais. A cada novo site naquela tecnologia, aprendíamos mais e mais, a tal ponto de aquele universo se tornar natural para nós. Isso nos levou diretamente ao quarto estágio.
4. Inconscientemente Capacitado
Aqui, já fazemos as coisas em modo automático. Como quando voltamos de carro do trabalho e, ao chegarmos em casa, nos damos conta de que não lembramos o trajeto pelo qual dirigimos. Neste exemplo, a experiência em dirigir um carro há vários anos já é tão sólida que não percebemos mais a enormidade de procedimentos que são demandados para se conduzir um veículo, somada às múltiplas opções de rotas que precisamos decidir no trânsito diário.
Neste estágio, há um conjunto de experiência e dedicação que nos faz atuar automaticamente nos detalhes e particularidades que, para pessoas nos estágios anteriores, seriam impensáveis.
Mas, embora o estágio quatro seja o grande objetivo para qualquer vertical em nossas vidas, eventualmente há aqueles temas com os quais nos identificamos tanto, nos envolvemos com tanta paixão, com a coragem de propor novas abordagens, sobre os quais já estamos tão confortáveis e atuamos com boa dose de humildade, que acabamos nos tornando referência neste assunto para as pessoas que nos cercam, ou mesmo para o mundo. Isso nos leva ao quinto e último estágio.
5. Excelência inconsciente
Pense no exemplo que citamos, ligado a dirigir um veículo. Ao chegarmos ao quarto estágio, já somos motoristas experientes, bons conhecedores das ruas de nossa cidade e respeitamos as leis de trânsito. Mas e se gostarmos tanto de carros que entramos em um curso de pilotagem? Do curso para pistas de kart, que podem nos levar a outras categorias, com potencial de sermos campeões em algumas delas. O Brasil tem um exemplo muito claro de alguém que chegou à excelência inconsciente nesta vertical, nosso ícone Ayrton Senna.
Exercite sempre
Para finalizar, faça um exercício rápido. Escolha um tema qualquer – como cozinhar, se apresentar em público, escrever um artigo, ou cuidar de filhos – e avalie no resumo abaixo em que estágio você se encontra, bem como quais as necessidades que se manifestam para que você avance. Faça isso sempre e, se tiver dúvidas, estou à disposição. Conte comigo!
Miro Leite é consultor em transformação digital na SulAmérica e articulista do Neurobranding Brasil
1. Inconscientemente incapacitado
evento leva a um insight sobre a situação
2. Conscientemente incapacitado
percebe que há uma escolha
3. Conscientemente capacitado
mão na massa, compromisso e foco
4. Inconscientemente capacitado
humildade, paixão e coragem
5. Excelência Inconsciente
Créditos da imagem: Edward Howell - Unsplash